INTRODUÇÃO GEOGRÁFICO-HISTÓRICA

I. A geografia da Palestina evangélica

I. A geografia da Palestina evangélica:

                      O Oriente antigo (Oriente Médio) é a terra onde se realizavam os grandes acontecimentos bíblicos. Tem como coração a Palestina, terra prometida por Deus ao povo hebraíco; foi aí que viveu Jesus.

A Palestina (aqui representada em visão prospectiva) é banhada ao ocidente pelo mar Mediterrâneo; o rio Jordão a percorre em quase toda sua extensão. Tal rio, depois de atravessar o lago de Genezaré, também indicado nos evangelhos, como "mar da Galiléia", desce tortuosamente até o mar Morto, onde desemboca.
O mar Morto não tem escoamento, mas perde muita água pela evaporação. Em consequencia disso, suas águas são extremamente salgadas e desprovidas de peixes, coisa que não acontece com o lago de Genezaré.


A Palestina é uma região montanhosa: na figura, a parte escura indica a zona montanhosa, dividida longitudinalmente em duas, pelo profundo vale do rio Jordão.


Os círculos representam as regiões montanhosas
que ultrapassam 1000 metros,
e os triângulos pretos, alguns montes mencionados
nos Evangelhos:
o monte Tabor, Garizim e
o da Quarentena.

Enquanto a região costeira é quase plana, o longo do vale do rio Jordão é bastante profundo e abaixo do nível do mar.

O lago de Genezaré fica a 212 metros abaixo do nível do mar e o mar Morto, 392 metros abaixo.








Eis a divisão da Palestina, à altura do mar Morto, ao longo da linha traçada na figura anterior. À esquerda, o mar Mediterrâneo (1); segue a planície costeira (2); e o maciço montanhoso ocidental (3); depois a depressão do mar Morto (4) e, enfim, o maciço montanhoso oriental (5).





Sendo a Palestina uma região sub tropical, tem praticamente duas estações: o inverno ou a estação das chuvas (com início em novembro) e o verão, ou estação seca (com início em maio).
A temperatura varia não somente com as estações, mas também com a altitude; a faixa costeira possui um clima mediterrâneo;o vale do Jordão um clima tórrido; os dois planaltos, clima temperado com temperatura raramente abaixo de zero.
Os ventos frios do sul (portadores de chuvas) e os do norte (que trazem frescor) são benéficos; enquanto os ventos secos que sopram do sudeste, no início de suas estações, são prejudiciais à agricultura.





Muitos rios e torrentes, partindo das duas planícies montanhosas, correm para o mar Mediterrâneo ou para o rio Jordão. Entre estas, acha-se a torrente do Cedron, que nasce a leste de Jerusalém, e que será mencionada no Evangelho, quando narra a Paixão de Cristo.









No tempo de Jesus, a Palestina estava dividida em províncias: a oeste do Jordão (Cisjordânia). encontram-se a Judéia, a Samaria e a Galiléia. Aleste do Jordão (Transjordânia), a Peréia e a Decápolis.










Principais cidades que tem alguma importância à narração evangélica:
Na Judéia: Jerusalém (a cidade santa). Belém (onde nasceu Jesus), Ain-Karim, Emaús, Arimatéia, Efrém,Jericó, Betânia (a terra de Lázaro, Marta e Maria).
Na Samaria: Samaria e Sicar.
Na Galiléia: Nazaré (terra de NOssa SEnhora e infância d  Jesus), Caná (onde Jesus fez seu primeiro milagre), Tiberíades, Magdala e Cafarnaum (terra de São Pedro).







Jerusalém era a cidade santa, como aliás é ainda hoje. De fato, os antigos habitantes de Israel eram um povo teocrático, cujo Soberano, não só religiosa, mas também politicamente, era o próprio Deus. A capital, Jerusalém, possuía um Templo, onde Deus queria ser adorado. Por isso, Jerusalém teve uma importânca enorme na vida de Nosso Senhor. Tornar-se-ia a capital do Messias: Jesus deveria ser oficialmente reconhecido como verdadeiro Messias e Filho de Deus. Realmente, Jerusalém foi o primeiro centro da expansão do Cristianismo.
A cidade está situada sôbre duas colinas, numa região montanhosa, a 750 metros acima do nível do mar.



Jerusalém é uma cidade antiquíssima, habitada desde os tempos pré-históricos. Foi conquistada pelo Rei Davi, 1000 anos antes de Cristo.
Nesse tempo.estendia-se unicamente pela colina oriental, na parte baixa, ao sul da atual esplanada sobre o qual foi construído o templo do Rei Salomão.
No decorrer dos séculos, estendeu-se para oeste e norte.
Foi destruída e reconstruída várias vezes.
Na figura ao lado, estão assinalados, em branco, os muroa atuais da cidade antiga.


Construídos pelos turcos em 1534, assemelham-se às muralhas  da cidade romana Elia Capitolina (depois da revolta judaica do ano 135 d.C.) e também, na parte sul, aos muros eretos de Herodes Agripa (42-44 d.C.).
No tempo de Jesus, os muros de Jerusalém cercavam a cidade mais ao sul, até a confluência do Cedron(no oriente) com o vale chamado Geena(no sul).
A colina ocidental (agora ocupada pela Basílica do Santo Sepulcro e Calvário) estava fora dos muros.

Herodes, o Velho, morto pouco depois do nascimento de Jesus, embelezou a cidade com construções, e de modo especial o grandioso palácio, sôbre a colina ocidental.


Ampliou a esplanada do Templo e edificou belíssimos pórticos.
Todas essas obras foram destruídas no ano 70 d.C.pelo general romano Tito, que depois tornou-se imperador.


O desenho ao lado, representa s muros de Jerusalém, dos quais se fará menção nos Evangelhos.









Uma foto e seu pantográfico, de Jerusalém, na época de Jesus,




II. A situação político-religiosa

No ano 747 da fundação de Roma, quando nasceu Jesus, César Otaviano Augusto era o Imperador dos romanos....
Naquele mesmo ano, a Palestina era governada por Herodes, o Grande, que obtivera do senado romano o título de "Rei dos Judeus".
Homem ambicioso e cruel, soube cativar a confiança dos imperadores e o respeito dos judeus.
Mandou restaurar o Templo de Jerusalém, e tentou matar Jesus ainda criança, ordenando a matança dos Santos Inocentes.
Com a morte de Herodes, o Grande (ocorrida no ano 750 de Roma, quando Jesus tinha 3 anos de idade), o Reino foi dividido entre seus filhos.
O governo da Judéia, Samaria e Iduméia, coube a Arquelau, com o título de Etnarca.

Ele foi logo denunciado ao Imperador Augusto, pela grande crueldade. O Imperador o depôs e o enviou para o exílio nas Galias (ano 759 de Roma).
O seu etnarcado passou então à administração direta de Roma, que o governava por intermédio de Procuradores.
O quinto deles foi Pôncio Pilatos que exerceu o cargo durante 10 anos: de 779 a 789 de Roma (26-36 d.C.)
Foi ele quem - diante da instigação dos chefes religiosos judeus - condenou Jesus à morte, numa sexta feira, no dia 7 de abril do ano 782 de Roma.






O governo da Galiléia e Peréia foi entregue ao etnarca Herodes Antipas, o segundo filho de Herodes, o Grande.
Foi ele que mandou encarcerar e decapitar São João Batista e foi diante dele que Jesus compareceu, durante sua Paixão.











A Felipe, terceiro filho de Herodes, o Grande, coube o governo das regiões situadas ao norte do lago de Genezaré (Ituréia, Triconírides, etc), que administrou com sabedoria.
Sómente o evangelista São Lucas o menciona.














Lembra-nos São Lucas no capítulo 3 de seu Evangelho, que no ano XV de Tibério, um certo Lisânias, de quem descobriu-se umainscrição, governava o Tetracardo de Abilinia, que tinha como capital Abila, ao norte de Damasco.
No ano 37 d.C. essa região foi atribuída a Herodes Agripas I, neto de Herodes, o Velho.









Em 767, quando Jesus tinha 20 anos, morreu Otaviano. Tibério César o sucedeu no poder como Imperador.
Durante seu império ( o qual se estendeu até 789), Jesus foi condenado à morte.


No tempo de Jesus, havia entre os Judeus duas correntes religiosas importantes: a dos fariseus e a dos saduceus.
Os fariseus admitiam não somente a Lei escrita dada por Deus e Moisés, mas também e sobretudo a Lei oral, transmitida de geração em geração, a qual continha minuciosas prescrições exteriores.
Jesus, muitas vezes, manifestou-se contra tais exterioridades e vaidades.
Os scribas (ou doutores da Lei) leigos eruditos na Lei e nas tradições, adoravam esses princípios farisaícos, de sorte que nos Evangelhos, várias vezes se confundem com os fariseus.
Os Saduceus, ao contrário, não acreditavam em nenhuma tradição oral.
Da Lei escrita admitiam apenas o Pentatêuco que, segundo eles, permitia que se negasse a ressurreição dos mortos.
Formavam um verdadeiro partido político, composto principalmente de aristocratas e sacerdotes.

III. O Templo e o sacerdócio hebraíco

Os romanos, Herodes e seus filhos sempre toleraram essas duas correntes, que representavam toda a organização religiosa hebraica. Tanto uma como a outra tinham o Templo de Jerusalém como centro máximo.
O Templo de Jerusalém era o único lugar oficial para se oferecer sacrifícios a Deus. Foi construído pelo rei Salomão, por ordem expressa de Deus, no décimo século a.C.
Destruído pelo rei Nabucodonosor no século VI a.C., foi reconstruído por Zorobabel 50 anos mais tarde.
Seu embelezamento iniciado por Herodes, o Grande, só terminou no ano 64 d.C.. Pouco anos depois, porém, foi totalmente destruído pelor romanos


O Templo de Herodes erguia-se sobre a grande esplanada, a nordeste de Jerusalém, a qual podia podia-se chegar por meio de escadas subterrâneas. Grandes pórticos o circundavam aos quatro lados; tornaram-se famosos: o do sul, ou pórtico Real, e o do leste ou pórtico de Salomão. No ângulo sudeste, em perpendicular ao vale do Cedron, erguia-se o"Pináculo do Templo".









No centro da esplanada, uma grande balaustrada retangular impedia aos pagãos (sob pena de morte) o acesso ao recinto do Templo.
O espaço compreendido entre os pórticos e a balaustrada chamava-se "Átrio dos Gentios", e estava sempre invadido pelas bancas de vendedores de pombas, cabritos etc, e pelos cambistas









Do outro lado estava o imponente edifício do Templo com o pátio das mulheres, dos homens e o dos sacerdotes, onde se erguia o altar dos holocaustos.
No centro, o Santuário do Templo, dividido em duas salas: o Santo com o altar de ouro do incenso, a mesa das alfaias, e o candelabro de ouro com sete braços.
Estava separado por um véu, o Santo dos Santos, que no tempo de Salomão contivera a Arca da Aliança, com as tábuas da Lei.
Nesse lugar, somente o Sumo Sacerdote podia entrar, uma vez por ano.




O sacerdócio judaico, aos quais podiam pertencer somente descendentes da tribo de Levi, culminava com o Sumo Sacerdote.
Os sumos sacerdotes no tempo de Jesus foram: Anás, que pontificou do ano 6 até o ano 15 d.C. Conservou depois grande autoridade nos anos seguintes. Depois ocuparam esse encargo, os seus cinco filhos, dos quais o Evangelho não dão notícias. Finalmente, o genro de Anás, Caifás, ocupou o cargo de sumo sacerdote. Durante o seu pontificado, Jesus foi crucificado.









O sumo sacerdote era auxiliado pelos Sacerdotes e Levitas. Os Sacerdotes, que prestavam serviço no Templo, eram divididos em 24 classes ou grupos. Revezavam-se semanalmente no serviço litúrgico.
Os Levitas, ao invés, eram encarregados de tarefas mais humildes.
Convém notar que, embora Jerusalém fosse o único em que se ofereciam serviços a DEus, os samaritanos, por razões históricas e religiosas, tinham construído um outro templo sobre o monte Garizim, re ali ofereciam sacrifícios a Deus. No tempo de Jesus tal templo tinha sido destruído, mas eles ainda continuavam a oferecer sacrifícios, no mesmo lugar, ao relento.

Depois do Sumo Sacerdote, a suprema autoridade do judaísmo era representada pelo Sinédrio.
Essa assembléia era composta de altos dignatários do judaísmo, presidida sempre pelo sumo Sacerdote em função, e constituída por 71 membros, dividisos em 3 grupos:

a) Os príncipes dos sacerdotes, ou seja, os sumos sacerdotes não mais em função, e os chefes das famílias sacerdotais.

b) Os anciães do povo, leigos, pertencentes às famílias aristocráticas.

Esses dois grupos adotavam princípios saduceus.

c) Os Escribas, ou doutores da lei, que como vimos, eram de tendência farisaicas.




O Sinédrio tinha os mais amplos poderes judiciários e executivos no campo religioso e civil, com apenas algumas restrições impostas pelos dominadores romanos, por exemplo, condenar à morte no território da Judéia.
Em toda cidade, ou vila de certa importância,  a vida religiosa dos judeus, estava centralizada na Sinagoga. Era um edifício geralmente retangular, contendo um grande armário, onde se guardavam os rolos da Bíblia. Existia ainda um móvel, semelhante a um púlpito, onde lia-se a Bíblia para o povo.
A leitura da Bíblia e as orações comunitárias eram sempre presididas pelo chefe da Sinagoga. O comentário poderia ser feito por um dos presentes.